- Como é mesmo aquele negócio que você faz?
Dou logo uma resposta completa para evitar novas perguntas:
- É PE, Produção Editorial (e não Pernambuco), é pra trabalhar em editora.
- Mas precisa estudar tanto tempo pra fazer um livro?
Dou logo uma resposta completa para evitar novas perguntas:
- É PE, Produção Editorial (e não Pernambuco), é pra trabalhar em editora.
- Mas precisa estudar tanto tempo pra fazer um livro?
Aparentemente é simples, mas há mais mistérios na sua biblioteca do que supõe esta vã literatura: tipo de papel, fonte, entrelinha, estilo, capa, formato, ilustração, impressão, distribuição, formato, logística, cálculo de custos e por aí vai. Achei que “como se faz um livro?” era um tema relativamente conhecido, mas percebi que me enganei redondamente quando voltei de uma visita à editora Record, exibindo uma matriz (eles chamam “clichê”) de impressão e umas duas pessoas disseram “eu pensei que era uma impressora gigante”. É, não deixa de ser... já imaginou como trocam o cartucho?
Agora imaginem uma máquina que imprime nada mais nada menos que 80 livros de cerca de 200 páginas por minuto! Dá até um aperto no coração ver aquele seu precioso livrinho, aquele que você não empresta pra ninguém, andando numa esteira como se fosse um parafuso ou uma latinha de coca-cola.
Essa velocidade é possível, porque o sistema é diferente do tradicional off-set. Quem???? Vamos fazer um teste. Pegue um livro de literatura qualquer próximo de você e abra na última página. Provavelmente vai estar escrito algo do tipo: “Esta obra foi impressa pela XX editora em ofsete sobre papel pólen” etc. Está lá. Escrito desse jeito estranho (será a nova ortografia?), mas está.
Como todos sabem, no princípio era o verbo. Para o verbo ir parar na máquina é preciso fazer uma chapa de impressão. O processo de produção da chapa pode ser feito digitalmente (como é o caso das editora Record) num mecanismo chamado CTP: Computer to plate - xx ou através de fotolitos. E lá vamos nós...
Fotolito, s.m. Filme positivo para reprodução de textos ou ilustrações para impressão. (Bueno, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. FTD, SP, 2000.)
O fotolito é uma página, feita de um filme fotográfico (lembram do material dos negativos, das nossas máquinas fotográficas analógicas?), com as imagens do que se quer imprimir. Para cor é feito um fotolito. Quando digo cada cor, quero dizer, ciano (C), magenta (M), amarelo (Y) e preto (K), as cores básicas da tinta que vão compor todas as demais.
Essa escala de cores é conhecida como CMYK (Em inglês: C= cyan, M= magenta, Y=yellow, K= black ou key). Na verdade, se misturarmos o cian, o amarelo e o magenta, teremos uma cor muito próxima do preto. Eu disse próxima. É que as cores, como sabemos, são resultantes da absorção e reflexão a luz, mas essa absorção não é total, e da mistura das cores sai uma cor que tenta ser preta, mas só consegue ser bistre.
É claro que existem tons, aqueles tipo de carro ou de esmalte que são produzidas de forma especial. Uma escala de cores muito conhecida é a Pantone. Há também um tipo de impressão, a hexacrome, que além da CMYK usa o ligth cian (verde-claro) e o ligth magenta (laranja), para gerar resultados mais bem definidos. Resumindo, as cores são impressas separadamente, uma por cima da outra. É a mistura que dá o colorido. Mas voltemos ao off-set.
Nesse sistema, as impressoras podem ser planas ou rotativas. Isso quer dizer que pode utilizar folhas soltas (planas) ou bobinas de papel (rotativas). Os jornais utilizam bobinas de papel (mas não falemos em papel-jornal, que dá até depressão...). Estávamos na parte em que as imagens do fotolito são gravadas na chapa de impressão. Daí é fácil, a é só passar tinta na chapa que vai “carimbar” o papel e pronto, certo? É... mais ou menos.
Na verdade, existe uma blanqueta (de borracha) entre a chapa metálica e o papel, para que a imagem saia com uma definição melhor, a letra não saia borrada, etc. E ainda um outro detalhe importante, como a tinta “gruda” na chapa. Esse é um processo antigo, baseado na litografia.
Inventada na Alemanha, no século XVIII, litografia significa escrever em pedra. Registrava-se o que se queria imprimir na pedra com substâncias gordurosas, depois jogava-se tinta por cima, que era fixada nos lugares onde havia gordura. Em seguida, jogava-se água, para tirar o excesso de tinta e fixava-se o papel. Com os anos, a pedra foi sendo substituída pela chapa metálica. Hoje já existem impressoras off-set que não utilizam água, mas, acreditem se quiserem, na maioria delas a chapa recebe água para que a tinta não se fixe nas áreas de contragrafismo (ou seja, nas que não serão impressas).
Parece difícil? E se eu disser que o sistema de impressão da editora Record não funciona assim? Agora que você, leitor, já sabe como funciona a maioria das impressões, vai entender melhor o que eu queria explicar. O sistema Cameron, utilizado pela editora, para começar, não utiliza fotolitos. O que significa que a impressão é preto no branco! As matrizes são feitas naquela base do computer-to-plate, lembram? Aliás, a matriz de impressão, não é uma chapa metálica, mas um “clichê de fotopolímero”, ou seja, quase um carimbo com letras de borracha, o tal que deu origem a todo esse comentário. Também não existe blanqueta. A matriz “carimba” direto no papel (o que faz a impressão off-set ter um resultado final melhor. Nada que possa ser perceptível a olhos nus).
Vários clichês, como o que eu ganhei, são colados um ao lado do outro, num grande “plástico” que se chama cinta. É ela que vai pra máquina. De um lado temos uma máquina fornecendo papel, de outra temos a cinta recebendo tinta. Em dado momento, a cinta encontra o papel e dá um beijo nele. Está pronto para ir pro forno, pra tinta secar. O papel sai do forno, é resfriado para evitar diferenças de tamanho, devido à dilatação. E lá vem ele de novo, para que o verso seja impresso. Repete-se a primeira etapa e pronto, está impresso. Daí pra frente é só dobrar, cortar, acertar as folhas, organizar, colar na capa, dobrar as orelhas, empacotar etc, etc, etc.
É ou não é uma impressora gigante?
Amei o post. Tenho uma vontade imensa de trabalhar com qualquer coisa que envolva livros. Nunca entrei numa editora e realmente não tenho ideia de como é uma, mas mesmo assim acho encantador trabalhar com a escrita.
ResponderExcluirE eu já sabia o que era PE!!!
É dentro do mesmo curso que jornalismo que se estuda produção editorial, só que em outra especialização, não é?